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Trilha de hoje: Ganga Zumba

Moacir Santos apresenta um de seus maiores trabalhos pro cinema no primeiro longa metragem de Cacá Diegues. Nele o maestro pode testar melodias e fazer uma espécie de pré-laboratório para o seminal disco Coisas, lançado posteriormente, em 1965. Escute aqui a musica tema e saiba mais sobre o site que reúne suas composições para o cinema.

"Acredito que a música de Ganga Zumba seja o melhor trabalho que até hoje realizei. Não só porque me encontrou numa fase de maturidade musical como também pela identificação que senti com o tema e o espírito do filme. Além disso, era um trabalho de fôlego, como eu queria, desde muito tempo, fazer." [Moacir Santos]

Pernambucano, nascido nos anos 20 e apaixonado por música desde menino. Já no Rio de Janeiro estudou com importantes músicos como Guerra-Peixe e Radamés Gnattali e teve alunos de peso, como como Nara Leão, Paulo Moura, Eumir Deodato, Sérgio Mendes, Baden Powell, João Donato e inúmeros outros.


Moacir, indicado por João Gilberto, compôs em 1962 a trilha sonora para o filme Seara Vermelha, adaptação cinematográfica do livro de Jorge Amado, lançada em 1963. No mesmo período, com a nova vocação de trilheiro encontrada, se tornou responsável pela música de filmes como Ganga Zumba, Os Fuzis, O Beijo e A Grande Cidade.



Cruzando seu profundo conhecimento técnico, com influências africanas e elementos do jazz, desenvolveu forte linguagem musical própria. Moacir Santos é talvez um dos maiores brasileiros de todos os tempos. Sua obra não tem só grande expressão na música, mas também no cinema. E para a nossa alegria e prazer, há um site no ar com diversas histórias, partituras e vídeos sobre algumas das trilhas musicais compostas por ele para o cinema brasileiro e internacional.


O site nos apresenta um pouco do processo do compositor para atingir a brilhante sonoridade alcançada na trilha de Ganga Zumba, veja a seguir:

  • A escrita rítmica apresenta de maneira muito evidente diversos trechos com sobreposição de métricas em subdivisão binária e ternária. O resultado dessa sobreposição é muito importante para a caracterização tanto de acompanhamentos como de melodias com sotaque afro.

  • O uso frequente de ostinatos rítmicos, ou rítmico-melódicos, especialmente no acompanhamento.  A sonoridade resultante é essencialmente cíclica, muito usada em trechos modais e sem claro direcionamento dominante-tônica.

  • A maioria das inserções musicais da trilha foram compostas de maneira não tonal, utilizando procedimentos modais para estruturar as progressões harmônicas.

  • O trabalho de arranjo também é muito importante para demarcar a sonoridade afro-brasileira, e a valorização da percussão é o principal fator. Pois o uso de instrumentos étnicos, como atabaques e xequerês traz referências auditivas e culturais diretas.

  • É possível notar que grande parte dos padrões rítmicos compostos por Moacir derivam de concepções mais tradicionais, como os tocados pelo Filhos de Gandhy no filme, mas sempre com alto grau de inventividade. Apesar de serem reconhecíveis frases rítmicas de tradições culturais afro-brasileiras, como o Candomblé, novas claves foram criadas por Santos, em métricas inesperadas e/ou incomuns, de forma a demarcar sua própria concepção estética nas composições.

Visto tudo isso, fica claro o minucioso trabalho de Santos, com atenção aos pequenos detalhes, de modo que cada aspecto musical pudesse ser identificado como parte integrante e indissociável do projeto audiovisual.


Músicas identificadas na trilha do filme

  • "Coisa nº 5 / Nanã" - lançadas nos discos Coisas [1965] e The Maestro [1972], respectivamente

  • "Coisa nº 4" - lançada no disco Coisas [1965]

  • "Mãe Iracema" - lançada no disco The Maestro [1972]

  • "Coisa nº 9" - lançada no disco Coisas [1965]

Fonte

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